Tiroteio policial mata estudante negro em Rio e reacende debate sobre racismo estrutural

Tiroteio policial mata estudante negro em Rio e reacende debate sobre racismo estrutural set, 27 2025

Os fatos

Na madrugada de 24 de fevereiro de 2025, Igor Melo de Carvalho, 31 anos, saia do bar Batuq, onde trabalhava como atendente, a bordo de uma moto‑táxi. Por volta das 01h30, a corrida seguia tranquila quando Carlos Alberto de Jesus, policial aposentado, começou a perseguir o veículo. O motivo? A esposa de Carlos alegou que o motociclista teria roubado seu celular às 23h da noite anterior.

O problema apareceu quando as câmeras de segurança do bar registraram Igor ainda no balcão às 01h20, nada de roubo. Mesmo assim, Carlos avançou em seu carro, disparou várias vezes e acertou Igor nas costas. A bala atravessou órgãos vitais: rim, baço, intestinos e estômago. Igor foi socorrido e encaminhado ao Hospital Estadual Getúlio Vargas, onde ficou em estado crítico por quase um mês.

Durante a internação, ele perdeu um dos rins e passou por cirurgias múltiplas. Apesar da gravidade, Igor recebeu alta e segue se recuperando, mas ainda sente as sequelas físicas e o trauma psicológico que o disparo deixou.

Inicialmente, tanto Igor quanto o motociclista, Thiago Marques Gonçalves, foram presos. Na manhã de 25 de fevereiro, a Justiça revogou a prisão de ambos, alegando falta de provas que justificassem a detenção. Enquanto isso, as investigações se aprofundaram para entender como uma queixa de roubo improvisada levou a um tiroteio policial sem fundamento.

Repercussão e consequências

O caso rapidamente saiu das manchetes locais e ganhou força nas redes sociais, onde ativistas denunciaram mais um exemplo de racismo institucional no Brasil. A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, prometeu acionar o governo do Rio e o Ministério da Justiça para que o caso fosse investigado com rigor. "Queremos jovens negros vivos, livres, não alvos de injustiças raciais", afirmou a ministra em entrevista.

No âmbito legislativo, a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e da Cidadania da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio) passou a acompanhar de perto o processo. A deputada Dani Monteiro, presidente da comissão, questionou: "Quantas vezes vamos permitir que a bala dispare primeiro e a explicação venha depois?" Ela também ofereceu apoio à família de Igor, disponibilizando assessoria jurídica.

Em abril de 2025, o Ministério Público do Rio de Janeiro solicitou a prisão preventiva de Carlos Alberto de Jesus, alegando risco de fuga e de interferir nas investigações. O pedido ainda está em análise, mas já evidencia a seriedade com que a promotoria está tratando o caso.

Para a comunidade negra de Penha e de toda a cidade, o episódio reacendeu o debate sobre a necessidade de reformas no treinamento policial e de políticas públicas que combatam o preconceito racial. Organizações como a Pastoral do Menor e o Instituto de Justiça e Cidadania já propuseram projetos de acompanhamento psicológico para vítimas de violência policial, além de campanhas de conscientização nas escolas.

Enquanto o processo judicial avança, Igor Melo tenta retomar sua rotina de estudos e trabalho, carregando a esperança de que sua história sirva de alerta para que outras vidas não sejam perdidas em situações semelhantes.

17 Comentários

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    Renan Zortéa

    setembro 29, 2025 AT 15:00
    Igor mereceu isso? Não. Ninguém merece ser atingido por balas por causa de uma acusação sem prova. Ele trabalha, estuda, tenta viver. E agora tem que carregar o corpo e a mente marcados por um homem que se acha juiz, polícia e executioner. Isso não é justiça. É terror.
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    Mayara Sueza

    setembro 29, 2025 AT 23:09
    tem algo errado quando um aposentado pode fazer o que quiser e a polícia não faz nada. e o pior? todo mundo sabe que isso nao é isolado. mas ninguem faz nada mesmo
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    Bruno Gomes

    setembro 30, 2025 AT 04:24
    essa historia me lembra quando meu primo foi parado na Zona Norte por ter uma moto parecida com a de um suspeito. ele tava só voltando do trabalho. sem arma, sem roubo, só com um caderno de anotações. e o que aconteceu? ele foi humilhado, revistado, e depois disseram que "não tinha nada". mas o trauma ficou. isso é o Brasil.
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    Narjaya Speed

    outubro 1, 2025 AT 01:28
    Eu não consigo dormir pensando no que Igor deve ter sentido. A dor física é terrível, mas o medo de ser visto como criminoso só por ser negro? Isso dói mais. Ele não é um número, não é um caso, não é uma manchete. Ele é um homem que voltou para casa, mas nunca mais será o mesmo. E isso não pode ser esquecido.
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    Alisson Villar Reyes

    outubro 1, 2025 AT 12:58
    Se ele não roubou o celular, por que estava correndo? Se ele não tinha nada a esconder, por que não parou quando foi abordado? A polícia não pode ser obrigada a esperar até que alguém se machuque. E se ele tivesse uma arma? E se tivesse sido um ataque? Vocês só veem a cor da pele, não a situação.
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    Roberto Compassi

    outubro 1, 2025 AT 23:15
    O sistema quer sacrificar um branco para calar os negros. Carlos é o bode expiatório. A mídia já decidiu. A justiça já condenou. A verdade não importa.
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    Leonardo Amaral

    outubro 2, 2025 AT 23:43
    Claro, o policial aposentado é o vilão. Mas e se ele tivesse visto o mesmo cara roubando o celular da esposa? E se ele tivesse tentado parar o carro por segurança? Será que o povo só quer um bode expiatório ou realmente quer mudar algo?
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    Maria Vittória Leite Guedes Vargas

    outubro 3, 2025 AT 09:03
    Mais um negro que "não merecia morrer"... mas quantos negros morrem por droga, por tiroteio entre facções, por não usar cinto? Por que só quando é "injustiça branca" vira notícia? #NaoTudoÉRacismo
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    Mari Lima

    outubro 4, 2025 AT 12:57
    Essa é a cara do Brasil. Negro na rua = suspeito. Negro com moto = ladrão. Negro com coragem = ameaça. E os brancos? Tudo bem, é só um "ex-policial". Mas eu tô cansada de fingir que isso é normal. 🤬
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    Jefersson Assis

    outubro 5, 2025 AT 08:06
    Conforme o artigo 5º da Constituição Federal, todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza. A conduta do indivíduo mencionado, ainda que aposentado, configura lesão à integridade física e violação ao direito à vida, elementos constitucionais inegociáveis. A ausência de devido processo legal e a arbitrariedade demonstram falhas sistêmicas na aplicação da justiça.
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    Crislane Alves

    outubro 6, 2025 AT 00:55
    A estrutura racista é evidente, mas a solução não é mais policiamento. É a desconstrução epistêmica do poder hegemônico. Precisamos de uma reestruturação ontológica da segurança pública, com base em paradigmas decoloniais e práticas de justiça restaurativa. O Estado não pode ser o agente de violência simbólica.
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    Renata Paiva

    outubro 7, 2025 AT 07:30
    É lamentável que, em pleno século XXI, ainda precisemos debater a humanidade de um indivíduo com base em sua pigmentação. A desumanização sistemática de corpos negros é um legado colonial que persiste sob a fachada de uma democracia incompleta. A resposta não é emocional - é institucional.
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    Maria Eduarda Araújo

    outubro 7, 2025 AT 19:50
    A vida de um negro no Brasil é uma aposta. Se você tem moto, é ladrão. Se você tem cabelo crespo, é suspeito. Se você tem coragem de reclamar, é agitador. Se você sobrevive, é milagre. E o pior? A gente ainda acha que isso é normal. Mas não é. É covardia.
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    jullyana pereira

    outubro 9, 2025 AT 09:00
    Outro caso de policial que acha que é o justiceiro 🤡 #JustiçaNoRio #RacismoEstrutural #QueroViver
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    irisvan rocha

    outubro 9, 2025 AT 13:02
    Vocês são todos hipócritas. Enquanto vocês gritam por justiça, seus filhos roubam, vendem droga, atacam lojas. Não adianta apontar o dedo. O problema é vocês. O problema é a cultura da vítima. E não tem nada a ver com raça. Tem a ver com preguiça.
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    luana vieira

    outubro 9, 2025 AT 14:36
    A vítima é um adulto. Não é criança. Não é inocente por definição. Ele estava em um bar, em uma moto, em horário suspeito. Ainda que não tenha roubado, sua presença já era um risco. A polícia não pode ser obrigada a confiar. E vocês? Não querem segurança. Querem impunidade.
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    Jussara Cristina

    outubro 10, 2025 AT 18:28
    Igor, você é mais forte do que sabe. Cada passo que você dá é um grito de esperança. E você não está sozinho. Nós estamos aqui. 💪❤️

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