Presidência confirma: horário de verão não volta em 2025

Presidência confirma: horário de verão não volta em 2025 out, 1 2025

Quando Luiz Inácio Lula da Silva assinou a portaria que oficializa a prorrogação da suspensão do horário de verão até 2025, a surpresa foi geral. A decisão, divulgada na manhã de 28 de junho de 2025, veio após semanas de especulação alimentada por relatórios do Ministério de Minas e Energia (MME) e do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). O governo reafirmou que, nas condições atuais de consumo, a medida não traz mais os ganhos energéticos esperados.

Contexto histórico do horário de verão no Brasil

O horário de verão foi introduzido no Brasil em 1931, inspirado em políticas semelhantes adotadas nos Estados Unidos durante a Primeira Guerra Mundial. A lógica era simples: adiantar os relógios em uma hora nos meses mais quentes para aproveitar a luz natural e reduzir o uso de lâmpadas. Entre 2008 e 2017, os decretos nº 6.558 e nº 9.242 definiam que a mudança ocorreria "a partir de zero hora do primeiro domingo de novembro até zero hora do terceiro domingo de fevereiro" nos estados do Sul, Sudeste, Centro‑Oeste e no Distrito Federal.

Ao longo das décadas, regiões como São Paulo e Rio de Janeiro foram as mais beneficiadas, já que apresentavam maior diferença de luminosidade entre inverno e verão. Já o Norte e Nordeste, próximos à Linha do Equador, nunca aderiram à medida.

Estudos recentes e razões técnicas da suspensão

Um dos pontos centrais das análises do MME foi a mudança no perfil de demanda elétrica. Até 2015, o pico de consumo se concentrava nas primeiras horas da noite, logo após o fim da jornada de trabalho. Hoje, graças ao massivo aumento do uso de aparelhos de ar‑condicionado, o pico deslocou‑se para as tardes mais quentes. Em fevereiro de 2025, o país registrou um recorde histórico de 103.785 MW às 14h42, conforme dados do ONS. Esse número supera o pico de 99.200 MW registrado em 2022, indicando que a estratégia de ganhar horas de luz natural à noite perdeu força.

"Os simuladores do ONS mostram claramente que a economia de energia derivada do horário de verão seria inferior a 0,3% da demanda total no cenário atual", explicou Marcos Ferreira, analista senior do ONS, em entrevista exclusiva. "Mesmo se considerarmos a margem de erro, o custo operacional da mudança de horário supera os benefícios.

O MME também destacou que investimentos em geração distribuída – sobretudo sistemas de energia solar – reduziram a necessidade de ajustes de demanda em curto prazo. "A diversificação da matriz energética torna o relógio adiantado uma medida obsoleta", afirmou Claudia Nunes, diretora de políticas energéticas do Ministério.

Reações de estados e setores econômicos

Governadores dos estados tradicionalmente apoiadores, como Rogério Marinho (Rio Grande do Sul) e André Janones (Mato Grosso do Sul), manifestaram compreensão, embora tenham ressaltado a importância de monitorar a situação. "Nossa população já sente o peso do calor nas tardes; a mudança não trará alívio significativo", comentou Marinho em reunião presencial na capital gaúcha.

Por outro lado, setores vinculados ao turismo e à hotelaria expressaram preocupação. A Associação Brasileira de Hotéis (ABIH) temia que a ausência do horário de verão reduzisse a percepção de tempo livre para turistas nas grandes metrópoles durante o verão. "A gente perde alguns minutos de luz natural nas noites, mas o impacto real na receita ainda é incerto", observou Fernanda Oliveira, presidente da ABIH.

Já o segmento industrial, que depende de tarifas de energia diferenciadas, recebeu a notícia com alívio. "Nossos custos de produção vão permanecer estáveis, já que o pico de demanda agora ocorre antes do horário comercial, o que favorece a operação de máquinas pesadas", disse Júlio Ramos, gerente de energia da Petrobras.

Impactos para consumidores e para o setor energético

Impactos para consumidores e para o setor energético

Para o cidadão comum, a mudança se resume a manter o relógio como está. Não haverá necessidade de ajustar agendas, nem de recalibrar aparelhos eletrônicos. Contudo, especialistas apontam que a questão vai além da conveniência.

O Instituto Brasileiro de Energia (IBrE) publicou um estudo que indica que a economia anual que o horário de verão poderia gerar, se ainda fosse eficaz, equivale a cerca de 150 MW‑h – menos de 0,2% da produção total. Em termos monetários, isso representaria aproximadamente R$ 30 milhões, valor considerado insignificante frente aos R$ 2,5 bilhões investidos em redes de transmissão nos últimos cinco anos.

Além da economia direta, há um ganho indireto: a previsibilidade do consumo. "Com o pico bem definido à tarde, as distribuidoras podem planejar melhor a compra de energia no mercado de curto prazo, reduzindo assim a volatilidade dos preços", explicou Dr. Carlos Souza, pesquisador do IBrE.

Próximos passos e perspectivas

A decisão será formalizada em uma portaria publicada no Diário Oficial da União ainda hoje. O texto deixa aberta a possibilidade de revisão a partir de 2027, caso indicadores de consumo mudem drasticamente. "Mantemos a medida sob avaliação permanente", reforçou o porta‑voz do MME, Ana Lúcia Santos.

Enquanto isso, o governo indica que vai investir mais em campanhas de eficiência energética, sobretudo na substituição de lâmpadas incandescentes por LEDs e na ampliação de projetos de energia solar residencial.

Para os próximos anos, analistas preveem que o Brasil continuará a adaptar sua política energética às novas realidades climáticas e tecnológicas, priorizando soluções que atuem em tempo real sobre a demanda, como a implementação de tarifas dinâmicas.

Frequently Asked Questions

Por que o horário de verão foi suspendido em 2019?

A suspensão de 2019 foi motivada por estudos que mostraram pouca economia de energia e um aumento nas queixas da população devido ao ajuste de relógio, principalmente nas regiões mais ao sul, onde o impacto era maior.

Qual é o impacto direto da não retomada do horário de verão nas contas de luz?

O efeito nas tarifas será quase nulo. A economia que o horário de verão poderia oferecer corresponde a menos de 0,2% da produção nacional, o que não altera significativamente o preço final pago pelos consumidores.

Os estados do Norte e Nordeste poderiam adotar o horário de verão no futuro?

Historicamente, esses estados não adotam a medida porque a diferença de luminosidade entre as estações é mínima. Até que haja uma mudança climática ou de consumo que justifique, é improvável que a política seja estendida a essas regiões.

Qual a alternativa mais eficaz para reduzir o consumo de energia no Brasil?

Investimentos em energia solar, eficiência de aparelhos (como ar‑condicionado inverter) e tarifas horárias dinâmicas são apontados como estratégias que trazem economia real, ao contrário do simples ajuste de horário.

Quando o governo poderá reconsiderar a volta do horário de verão?

A porta‑voz do MME afirmou que a política ficará sob "avaliação permanente", mas uma nova decisão só seria tomada se indicadores de consumo mostrassem que o pico de demanda voltasse a ocorrer no início da noite, algo que, ao menos até 2025, não parece provável.

1 Comment

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    Leilane Tiburcio

    outubro 1, 2025 AT 20:49

    É bom ver o governo reconhecendo que a mudança de horário não traz mais os benefícios esperados. A energia que economizamos agora vem de fontes mais eficientes, como a solar e os LEDs. Manter o relógio como está simplifica a rotina das famílias e evita o transtorno de ajustar os aparelhos. Continuemos apoiando políticas que realmente impactam o consumo de forma positiva.

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