Ambipar garante medida cautelar e suspende pagamentos de dívida em crise de R$ 11 bilhões

Ambipar recebeu, nesta segunda‑feira, uma medida cautelar do 3º Vara Empresarial do Rio de Janeiro, concedida pelo juiz Leonardo de Castro Gomes. A ordem impede que credores cobrem dívidas por 30 dias, com possibilidade de prorrogação por mais 30. Na prática, a empresa tem um respiro para reorganizar as finanças antes que cláusulas de cross‑default ativem pagamentos acelerados.
Entenda a medida cautelar
A medida funciona como um escudo temporário. Ela suspende contratos que poderiam antecipar vencimentos e bloqueia execuções de garantias, dando à Ambipar tempo para negociar com bancos, fornecedores e investidores. Quatro administradores judiciais foram nomeados para acompanhar o processo, assegurando que nenhuma parte fuja da responsabilidade.
O caso se agravou depois que operações de derivativos atrelados a green bonds apresentaram fortes variações de preço. Ao invés de proteger a caixa, essas posições geraram perdas que foram diretamente refletidas nos demonstrativos da companhia, disparando temores de falência imediata.
Um dos pontos críticos envolve a dívida de US$ 119 milhões com o Santander, que vencia às 14h de 25 de setembro. Essa obrigação foi congelada pela medida, evitando que o banco acionasse garantias ou forçasse a empresa a entrar em litígio.
Além do Santander, o Deutsche Bank também está sob suspeita. Investigações internas apontam que um ex‑executivo teria assinado um aditamento contratual de forma fraudulenta, o que pode gerar novos passivos ou multas.

O que pode mudar para a Ambipar
Antes da medida, a empresa já atravessava um período intenso de mudanças na alta gestão. O CFO João Daniel Piran de Arruda pediu demissão na noite de 22 de setembro, três dias antes da solicitação judicial, e foi substituído por Ricardo Rosanova Garcia. A troca indica tensão interna e a necessidade de nova estratégia financeira.
Financeiramente, a Ambipar se tornou altamente alavancada após 42 aquisições entre 2020 e 2022, logo após seu IPO. Quando a taxa de juros começou a subir, o custo do capital disparou, levando o endividamento líquido a quase R$ 6 bilhões no fim do segundo trimestre, com um leverage de 2,56 vezes o EBITDA anualizado.
No mercado de ações, a reação foi brutal: as ações AMBP3 despencaram 24,24%, caindo para R$ 7,50, o que equivale a uma perda de cerca de R$ 4 bilhões em valor de mercado. Analistas apontam que, se a empresa não conseguir renegociar suas dívidas, pode estar caminhando para um processo de recuperação judicial.
Os executivos da Ambipar afirmam que já estão em "conversas positivas" com credores, buscando um acordo que preserve os negócios e evite um colapso total. A expectativa é que a medida cautelar seja usada como ponte para um eventual plano de recuperação, que costuma ser menos custoso e mais rápido que um processo de falência tradicional.Para os investidores, o principal ponto de atenção agora é se a empresa conseguirá obter condições mais favoráveis nos seus contratos de dívida e se os administradores judiciais vão aprovar um plano de reestruturação que contemple a continuidade das operações.
Enquanto isso, o setor de gestão de resíduos observa de perto, já que a Ambipar responde por grande parte da capacidade instalada do país. Uma eventual falência poderia deixar lacunas na cadeia de coleta e tratamento de resíduos, afetando não só clientes corporativos, mas também a política ambiental nacional.